Barroso fala a jovens de Cuiabá sobre integridade, democracia e otimismo com o país

Você está visualizando atualmente Barroso fala a jovens de Cuiabá sobre integridade, democracia e otimismo com o país
Lançamento do Projeto do CNJ: Diálogos com as juventudes. Cuiabá/MT - Foto: Gustavo Moreno/STF
Compartilhe

“Há 50 anos, eu estava exatamente onde vocês estão: em uma escola pública, tentando adivinhar o que a vida me reservaria. Não é preciso ter medo do futuro; asseguro que o melhor ainda está por vir”. Com essas palavras, diante de um auditório lotado de estudantes, o presidente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, inaugurou na manhã desta segunda-feira (18/8) o projeto Diálogos com as Juventudes, que busca aproximar o Judiciário das jovens e dos jovens brasileiros.

O evento aconteceu na Escola Estadual Liceu Cuiabano Maria de Arruda Müller, em Cuiabá (MT), em parceria com a Associação Mato-Grossense de Magistrados (Amam) e com apoio do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT). O governador do estado, Mauro Mendes, também compareceu à cerimônia.

A abertura contou com a execução do Hino Nacional pela fanfarra da escola e, em seguida, uma apresentação de siriri, dança típica da região Centro-Oeste. “É uma escola que reverbera a cultura cuiabana. Foi a primeira escola pública do estado, criada em 1879 e tombada como patrimônio cultural em 1984. Ao longo dos anos, vem formando artistas, políticos e outras personalidades que integram a nossa ‘cuiabania'”, destacou o diretor da instituição, Lucas Vaz.

Reflexões

Responsável pela aula inaugural do projeto, Barroso foi recebido com entusiasmo pelos mais de 400 estudantes do ensino médio. Ele dividiu sua fala em três momentos: relembrou sua juventude e as escolhas de carreira; aconselhou os jovens e as jovens em suas decisões de vida; e refletiu sobre o Brasil. “Tenho muito prazer e alegria em estar aqui e poder compartilhar ideias e reflexões sobre a vida em geral”, afirmou.

O ministro recordou sua trajetória escolar, iniciada em Vassouras (RJ), até a chegada à capital do estado, onde se graduou em Direito após também cursar alguns semestres do curso de Economia. Quando jovem, conciliou os estudos com esportes e aulas de música. “O segredo do sucesso está no treinamento e na preparação. Dom e vocação ajudam, mas só somos bons naquilo que treinamos para fazer”, disse Barroso, ao ressaltar que a vida é feita de conquistas e frustrações: “Embora a gente possa sonhar alto, não conseguiremos realizar todos os sonhos”.

Barroso também enfatizou a importância de orientar a vida por valores: “A vida boa exige integridade, com duas regras muito simples: no espaço privado, não passar os outros para trás; no espaço público, não desviar recursos. Pode parecer simples, mas é uma grande revolução brasileira que ainda não se completou. Precisamos de novas gerações que ajudem o país a lidar com a integridade”.

Democracia e desafios

Falando sobre o momento presente, o ministro destacou a importância de preservar a democracia, “que envolve o direito de as pessoas participarem em igualdade de condições, com liberdade de expressão, de ir e vir, de se reunir”. Para Barroso, a convivência democrática exige saber lidar com opiniões divergentes: “Ninguém tem o monopólio da verdade, da virtude ou do amor ao Brasil”.

O presidente do CNJ também alertou para os desafios da revolução tecnológica, em especial a inteligência artificial generativa, e da crise climática. “Antes, falávamos em justiça geracional, pensando nos impactos da destruição ambiental para o futuro. Agora não: eventos extremos como as enchentes no Rio Grande do Sul ou a seca no Pantanal e no Amazonas mostram que o impacto é presente e muito grave. Precisamos ter consciência ambiental”, afirmou.

Apesar das dificuldades, o ministro ressaltou seu otimismo com o país, lembrando as grandes mudanças ocorridas desde 1808, quando a Coroa Portuguesa chegou ao Rio de Janeiro: “Naquela época, a maioria da população era analfabeta, um terço era escravizada, e o país não tinha fábricas, estradas nem moedas suficientes. Não havia um projeto de país, mesmo reconhecendo a imensa resistência de indígenas e pessoas escravizadas no período. Em pouco mais de 200 anos, o Brasil se tornou uma das dez maiores economias e a quarta maior democracia do mundo. Mesmo quando o quadro parece difícil, olhando em perspectiva, temos uma história de sucesso”, finalizou.

Diálogos com as Juventudes

Idealizado por Barroso e executado pelo programa Justiça Plural, uma iniciativa de cooperação internacional entre o CNJ e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), o Diálogos com as Juventudes busca engajar estudantes do ensino médio de escolas públicas em discussões sobre direitos humanos, acesso à Justiça, arte, cultura, tecnologia, violência doméstica e racismo estrutural.

Além do Liceu Cuiabano, outras nove escolas públicas, em todas as regiões do Brasil, deverão receber oficinas conduzidas por magistradas e magistrados. O projeto conta com parceria técnica da ONG Viração, com mais de 20 anos de experiência em educomunicação voltada ao público jovem.

Justiça Plural

O programa Justiça Plural, do CNJ em parceria com o Pnud, tem como objetivo fortalecer as capacidades do Poder Judiciário na promoção dos direitos humanos e socioambientais e ampliar o acesso à Justiça por populações historicamente vulnerabilizadas. Acesse o site para saber mais.

Texto: Sâmia Bechelane
Edição: Thaís Cieglinski
Revisão: Caroline Zanetti
Agência CNJ de Notícias

Macrodesafio - Aperfeiçoamento da gestão administrativa e da governança judiciária