Paz em Casa: racismo e violência obstétrica em debate

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O encontro faz parte da programação estadual da XVI Sem Justiça pela Paz em Casa - Foto: Érika M Nunes / TJPA
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Profissionais e residentes da Santa Casa de Misericórdia do Pará debateram, durante um círculo de diálogo ocorrido nesta quinta-feira (12/3), questões como o privilégio branco, a forma como as pessoas são hierarquizadas e como essas categorizações sociais influenciam no atendimento prestado a mulheres por profissionais de saúde. Conduzido pela psicóloga Eveny Teixeira, vinculada à Coordenadoria Estadual de Mulheres em situação de Violência Doméstica e Familiar (Cevid ), do Tribunal de Justiça do Pará (TJPA), pela facilitadora Clélia Esmael e pelo residente de psicologia George Pontes, o encontro faz parte da programação estadual da XVI Semana Justiça pela Paz em Casa, que ocorre nacionalmente até a sexta-feira.

Aplicado pela Justiça Restaurativa, o Círculo de diálogo, ou círculo de construção de paz dispõe os participantes em uma roda a fim de que todos tenham oportunidade de falar e de serem ouvidos. É selecionado um objeto, que indica a pessoa que conduz a fala momentaneamente e durante a aplicação do método passa por todos os participantes da roda. O círculo deve ser feito preferencialmente com a participação de poucas pessoas, a fim de não apressar a fala de nenhum participante.

“A proposta deste círculo é lidar com violência institucional e de gênero e esses tipos de violência passam também pelo racismo”, explicou a facilitadora Eveny Teixeira, que conta que profissionais negras foram convidadas a participar da ação a fim de dar protagonismo às suas impressões sobre o tema. “Vamos trabalhar as hierarquias sociais da nossa sociedade e conversar sobre o privilégio branco por meio de perguntas. E durante a condução do círculo, vamos falar sobre racismo. Raça é um assunto que nos mantém todos escravizados, até mesmo as pessoas brancas. É uma escravidão mental”, disse.

A violência obstétrica, que segundo a Organização Mundial da Saúde são condutas abusivas e desrespeitosas que ocorrem durante o parto em instituições de saúde, e considerada uma violação aos direitos humanos, é outro assunto tratado no círculo, como explica Eveny.

“Esse tipo de violência é muito mais frequente com mulheres negras do que com mulheres brancas. Até hoje, você ainda vê profissionais de saúde reproduzindo a ideia de que é menos necessário aplicar analgesia na mulher negra, porque eles acreditam que ela suporta mais dor, ou mesmo a ideia de que mulheres negras são melhores parideiras, então elas podem esperar um parto normal. Precisamos conversar sobre isso nas instituições de saúde, para que possamos combater a violência obstétrica, que é um tipo muito cruel de  violência de gênero”, disse.

O residente de psicologia George Pontes, membro da Comissão de Diversidade Sexual do Conselho Regional de Psicologia da 10ª Região, acredita que discussões de gênero, diversidade sexual e discussões raciais são temas transversais, importantes, urgentes e muito presentes no cotidiano da Santa Casa. “Esses assuntos impactam nossa relação com os usuários da instituição. Discutir aqui é muito importante, porque esses temas não são vistos e entendidos como algo  que tem relação com a saúde. Nós percebemos essas questões nas nossas relações institucionais e com o usuário, com nossos pares, então é importante discuti-los e termos a possibilidade de ter essa abertura para debatermos esses assuntos”.

Eveny Teixeira observou ainda que a violência motivada pelo gênero tem uma abrangência muito mais ampla do que a violência doméstica e familiar contra a mulher. Para ela, se a violência por motivo de gênero for trabalhada preventivamente e combativamente na sociedade, ocorrerá também uma redução dos índices de violência doméstica e familiar contra a mulher.

O círculo de diálogo faz parte de uma série, na qual serão tratados assuntos como o programa Aborto Legal da Santa Casa,  o desaparelhamento de políticas públicas voltadas para mulheres no Brasil e o atendimento a pessoas que não se identificam como mulheres, e que possuem capacidade gestativa, independente do gênero com as quais se identificam, entre elas os homens transexuais.

A semana segue nas varas de Violência Doméstica contra a Mulher e nas unidades judiciárias do estado com competência para julgar esse tipo de processo, que agilizam processos relacionados à violência doméstica e familiar contra a mulher sob a coordenação da Cevid.

A programação termina nesta sexta-feira (13/3), no canteiro de obras  da empresa Almáa Engenharia, localizado na avenida Alcindo Cacela, Em Belém, onde  os trabalhadores da construção civil assistirão a uma palestra sobre violência doméstica e familiar contra a mulher, pelo projeto Mãos à Obra, executado em parceria com o Sindicato da Indústria da Construção do Estado do Pará (Sinduscon – PA).

Fonte: TJPA