O Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos (Nupemec) do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS) realizou, entre os dias 14 e 27 de julho, o curso “Caminhos do Bem-Viver: sabedoria ancestral e práticas restaurativas”, voltado à formação continuada de facilitadores judiciais de Justiça Restaurativa. A iniciativa, realizada na modalidade EAD e com carga horária de 20 horas, foi conduzida pelas instrutoras internas do TJRS e pelas servidoras do programa Servidores da Paz, Anita Maurique da Rosa e Petina Riccardi Lima, além do tutor e facilitador judicial Rafael Ramatis.
A atividade reuniu servidores e voluntários em uma jornada formativa conectada às raízes culturais dos povos originários brasileiros. A Justiça Restaurativa é uma abordagem que busca transformar conflitos por meio do diálogo, da escuta ativa e da corresponsabilidade, promovendo a reparação de danos e o fortalecimento dos vínculos comunitários. Com temática inédita no âmbito do Poder Judiciário brasileiro, o curso integrou princípios da Justiça Restaurativa aos saberes ancestrais dos povos originários, como a cosmopercepção guarani e a filosofia do bem-viver.
A instrutora Petina destacou que a atividade valoriza o diálogo intercultural e o resgate de práticas tradicionais, promovendo uma Justiça mais sensível à diversidade e voltada à transformação social. “O curso alcançou seu objetivo de fortalecer a atuação ética e sensível dos facilitadores, promovendo consciência, escuta e transformação pessoal e coletiva”, afirmou. Segundo ela, a formação também enfrentou temas como o racismo estrutural, a pluralidade epistemológica e a valorização dos saberes ancestrais como fundamentos legítimos da Justiça Restaurativa. “A iniciativa reafirma o protagonismo do TJRS na promoção de práticas restaurativas e na construção de uma Justiça mais humana, inclusiva e conectada às realidades culturais do Brasil”, concluiu.
A servidora Angelita Dorneles da Silva, do TJRS, contou que a sua participação no curso foi muito significativa. “Sou uma mulher brasileira que carrega nas veias uma mistura de ancestralidades. Na busca por essa identidade, encontrei neste curso um espaço de emoção, aprendizado e reconciliação com minhas raízes”, relatou. Ao final da formação, Angelita afirmou sentir-se “em paz com seus antepassados e ainda mais comprometida com a Justiça Restaurativa”. Inspirada pelo ensinamento indígena de que “somos rios”, ela reforçou seu desejo de seguir fluindo, conectando-se a outros saberes e espalhando práticas de escuta, acolhimento e pertencimento.
Para o facilitador judicial em formação Lourenço Jucelino de Siqueira, o curso foi uma vivência marcada por reflexões sobre natureza, ancestralidade e relações humanas. “Minha experiência no curso foi de extrema importância e de realização pessoal, pois vi que tudo aquilo que senti a vida inteira, como forma de conexão com a natureza, valorização das pessoas na interação social e respeito à ancestralidade, vem de uma importância natural para que minha vida faça sentido, principalmente ajudando e compreendendo o outro”, afirmou. O aluno voluntário de Caxias do Sul destacou a profundidade dos encontros, a escuta ativa e a conexão com saberes ancestrais, especialmente os que reforçam o respeito às diversidades. “Descobri que tudo aquilo que tinha de devoção à natureza e à ancestralidade certamente se somou à Justiça Restaurativa e tornou-se um norte em um aprendizado ímpar”, enfatizou o participante.