Justiça gaúcha ouve detidos pela Lei Maria da Penha

Você está visualizando atualmente Justiça gaúcha ouve detidos pela Lei Maria da Penha
Compartilhe

Na semana alusiva ao Dia da Mulher, quando o Poder Judiciário intensifica ações de combate à violência doméstica, presos provisórios da Cadeia Pública de Porto Alegre, por crimes enquadrados na Lei Maria da Penha, participaram de dinâmica com membros do Judiciário. As juízas Traudi Beatriz Grabin, titular da Coordenadoria Estadual das Mulheres em Situação de Violência Doméstica, e Patrícia Fraga Martins, da 2ª Vara de Execuções Criminais (VEC) da capital, e a psicóloga Ivete Vargas, do 1º Juizado da Violência Doméstica e Familiar de Porto Alegre, conversaram com os detentos sobre o tema. A atividade integrou a 7ª Semana da Justiça pela Paz em Casa, cujo tema é #TransformandopelaPaz.

Saudade da família, desejo de recuperar a liberdade e sensação de injustiça foram os pontos mais citados pelos 82 homens que participaram da atividade. A pedido de Ivete, cada um escolheu um pedaço de papel colorido, conforme a cor da sua preferência. Depois, reuniram-se em grupos conforme a cor escolhida e, juntos, elencaram o sentimento que cada cor lhes despertava. Ao final, um representante de cada grupo relatou os resultados da dinâmica.

Um dos detentos falou da própria experiência: “Não ‘caímos’ aqui em vão. Entramos aqui, então, vamos tentar melhorar. Se houve falhas, tudo bem. Vamos tentar consertar”, disse o detento, que foi aplaudido pelos demais. “Jamais pensei que uma discussão com as minhas irmãs, por causa de uma herança, fosse considerada violência doméstica. Hoje, estou aprendendo”, afirmou outro.

Machismo: herança social

A psicóloga Ivete Vargas, que coordenou os trabalhos, conversou com os detentos sobre os estímulos que os homens recebem, desde a infância, no sentido de serem fortes, bem-sucedidos e chefes de família. Quando a mulher coloca em questão a macheza, ele se sente humilhado. Não consegue lidar com a situação e parte para a violência, destacou a servidora. O homem é educado para não falar do sentimento. Um menino não pode chorar. Isso faz com que guarde tudo para si. Quando é desafiado, responde com agressividade, acrescentou.

A juíza-corregedora Traudi Grabin ressaltou que o objetivo do encontro é se aproximar dos homens que se envolveram em violência doméstica e ouvi-los, buscando incentivar a reflexão e o diálogo. E enfatizou a importância de quebrar paradigmas arraigados na sociedade, que colocam a mulher em situação inferior ao homem.

A capitã Clarisse Heck, coordenadora técnica da Patrulha Maria da Penha, da Brigada Militar, também deixou o seu recado: A mudança começa dentro de nós. Superação é ultrapassar limites. É acreditar que querer é poder. Pense nas forças e oportunidades e saiba usá-las. O seu pior adversário é você mesmo. Mudar exige paciência, persistência e força de espírito. A Patrulha atende, atualmente, 27 municípios gaúchos e atua a partir do momento em que o Judiciário concede a medida protetiva de urgência à mulher vítima de violência doméstica.

Muitos homens relataram sentir inconformidade por terem sido traídos pela companheira, expressando sentimentos como raiva, ódio e vingança. Depois de questionar quem, entre os presentes, nunca havia traído, e apenas um pequeno número entre mais de 80 homens ter levantado a mão, a juíza Patrícia Martins destacou a pressão social para que eles reajam frente a essas situações: “A nós, mulheres, quando traídas, nos dizem: ‘não fica assim, os homens são assim mesmo’. Sentir raiva faz parte da natureza humana. Mas temos que aprender é como nos expressamos, deixando com que esse sentimento passe”, afirmou.

Fonte: TJRS