Vacinação humanizada de crianças dá prêmio à clínica de MT

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Crianças maiores utilizam equipamento de realidade virtual durante a vacinação. FOTO: Instagram
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Três anos atrás, o desafio do pediatra Luiz Marcos Pinheiro Borges era vacinar o filho de oito anos de idade, que “morria de medo de agulha”, sem transformar a vacinação em um trauma para sempre. O médico pesquisou o estado da arte da infectologia e desenvolveu uma metodologia de aplicação de vacina que humaniza o tratamento de pais e filhos e a prática da imunização. Quando abriu uma clínica de vacinação na sua cidade, Primavera do Leste/MT, Luiz Marcos resolveu o problema do filho e das centenas de clientes que conquistou. Mais: ganhou o reconhecimento do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que, em dezembro de 2019, premiou a iniciativa da Applik Clínica de Vacinação na seleção de boas práticas na área da primeira infância.

De acordo com o médico, a opção por humanizar a experiência da vacina garante o direito constitucional da criança à dignidade e responde às necessidades comerciais da empresa. “É um trabalho de formiguinha, mas é uma tentativa de fazer, de um momento tão estressante, uma situação menos estressante ou até um pouco agradável. Dá uma acalentada no coração e deixa uma impressão muito boa que faz as famílias quererem voltar – e a experiência da mãe é muito decisiva para um cliente voltar ou não a uma unidade de saúde”, afirma Luiz Marcos Pinheiro Borges.

Quando chega à Applik, o paciente e seus acompanhantes passam por uma consulta de enfermagem, em que todas as dúvidas que tiverem sobre a vacina são tiradas. Esclarecidos sobre particularidades das possíveis reações às substâncias da seringa – e menos inseguros –, entram na sala de vacinação. Ao contrário do que o nome possa sugerir, o espaço não parece um hospital, mas uma sala colorida e decorada com brinquedos e motivos infantis que desviam o olhar da criança pela busca por agulhas. Além do ambiente amigável, o tempo é fator chave no sucesso da vacinação sem traumas. Por isso, respeita-se o tempo que cada criança precisar para se sentir apta a ser vacinada, sem apressar o ato.

Métodos

De acordo com a idade de quem será vacinado, a enfermeira oferece métodos diferentes para aliviar a tensão dos que antecipam (e sofrem) a dor inevitável da picada. Os mais novos se aninham no colo da mãe enquanto os mais velhos têm a opção de escolher um “artifício distrator”. Pode ser um cartão de um jogo de perguntas e respostas para deslocar o foco da criança do medo ou um dispositivo de vibração em alta frequência. Popularmente conhecido como “Buzzy” ou abelhinha, o dispositivo é colocado sobre a região onde a vacina será aplicada ao lado de uma bolsa térmica fria. A técnica envia para o cérebro estímulos sensoriais que competem com a sensação de dor provocada pela agulha ao tocar a pele da criança.

Outro meio é o uso de óculos de realidade virtual de última geração que transporta as crianças a um outro ambiente, com a ajuda da tecnologia. A imersão audiovisual leva o paciente a interagir com elementos de um mundo mágico e minimiza a experiência do medo.

Para aliviar o inevitável momento em que a agulha fura a pele da criança, também é utilizada uma técnica colhida do que há de mais atual na área. Ao usar a técnica em Z, a enfermeira afasta um pouco do tecido subcutâneo na região em que a vacina será aplicada, o que deixa mais exposto o tecido intramuscular. O resultado é a redução do risco de vacinar errado, pois faz-se com os dedos um tipo de bloqueio para o líquido da vacina. A técnica reduz a sensação de dor e assegura maior eficácia à vacina.

Ao final da experiência, o paciente corajoso é recompensado com guloseimas e a medalha da coragem. “É tão bonito ver a criança mudar ao longo do tempo e ter crianças sem medo do ambiente da vacinação”, afirma o médico. Ao evitar que a criança leve um trauma para o resto da vida ao vacinar-se, o médico vislumbra a repercussão positiva na vida adulta das crianças.

Ao final da primeira vacina na Applik, os filhos de Enio Zanatta o surpreenderam, pois não choraram “e até ficaram espantadas por não sentirem dor no momento da vacina”, afirmou o pai. Zanatta credita o sucesso da vacinação à “preparação antes da vacina, que faz com que se torne algo divertido e não um trauma, o preparo dos profissionais e todo o cuidado com armazenamento”, disse o morador de Primavera do Leste, município distante 244 quilômetros da capital mato-grossense, Cuiabá.

Saúde pública

Os homens brasileiros vivem, em média, 7,2 anos a menos que as mulheres brasileiras, de acordo com o Ministério da Saúde. Pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz de 2012 revelou ainda que o homem brasileiro se consultou, em média, 71 vezes menos que uma mulher. O perfil de cuidado com a saúde motivou o Ministério da Saúde a criar, em 2009, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem.

“Tem muito adulto que tem medo de vacina porque na infância foi traumatizado, especialmente os homens. O pânico daquilo faz com que o homem fuja o resto da vida de um hospital ou de algo que o remeta àquela experiência da vacinação. Às vezes, ele até admite que está doente, mas não vai se cuidar. Com isso, temos diagnósticos tardios de um câncer ou de uma doença infectocontagiosa – e tudo isso por causa de uma agulha”, diz Luiz Marcos.

Cobertura vacinal

A publicidade boca a boca, segundo o médico, tem levado cada vez mais famílias à clínica e atestam o sucesso da proposta. O êxito da Applik contrasta com a queda da cobertura vacinal no Brasil, verificada desde 2011, de acordo com o Ministério da Saúde. Os dados mais recentes do Programa Nacional de Imunizações (PNI) apontam que, das 15 vacinas oferecidas gratuitamente pelo Brasil, apenas uma delas – a vacina BCG – atingiu a meta de imunizar 95% do público-alvo em 2018. Em época de reaparecimento de doenças erradicadas, como o sarampo, a campanha da vacina tríplice viral (contra sarampo, rubéola e caxumba) atingiu apenas 76,3% do público-alvo.

O sucesso na experiência de vacinar a filha na clínica cativou a mãe Mariana Junqueira, que só faz as vacinas na Applik. “(A experiência) foi ótima! Tudo que eu, como mãe, prezo: cuidado com o produto, que é a vacina de qualidade, data de validade, produto lacrado, com minha filha, com atenção, cuidado com a aplicação, uso de abelhinha para amenizar a dor, ambiente decorado, brinquedos para distraí-la, assim como o pós-atendimento. Sempre recebi uma mensagem via WhatsApp com possíveis reações das vacinas e acompanhamento. Tudo isso contribuiu para essa boa percepção”, diz a fiel cliente da Applik.

Prêmio pela primeira infância

A Applik Clínica de Vacinação venceu em terceiro lugar na categoria Empresas da chamada pública para seleção, premiação e disseminação de boas práticas para primeira infância, aberta pelo CNJ no segundo semestre de 2019. O objetivo é favorecer o cumprimento do Marco Legal da Primeira Infância (Lei 13.257/2016), reconhecer, dar visibilidade e disseminar práticas de sucesso que contribuíram para elevar o patamar de excelência na promoção de direitos e atenção à primeira infância.

Para disseminar as práticas para a proteção e o desenvolvimento de crianças na primeira infância o CNJ realizou, em junho, capacitação em meio virtual. O curso abrangeu 15 projetos premiados e selecionados como uma das ações do projeto “Justiça Começa na Infância: fortalecendo a atuação do Sistema de Justiça na promoção de direitos para o desenvolvimento humano integral”. As práticas foram subdivididas nas categorias Sistema de Justiça (três práticas), Governo (quatro práticas), Empresas (três práticas) e Sociedade Civil Organizada (cinco práticas).

Manuel Carlos Montenegro
Agência CNJ de Notícias