Justiça do Trabalho da 8ª Região promove diálogo sobre masculinidade tóxica

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Foto: TRT8
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A campanha do Agosto Lilás, encampada por diversas instituições, simboliza o enfrentamento da violência contra a mulher. Atuando nesse sentido, o Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região (TRT8), por meio de sua Comissão de Incentivo à Participação Feminina, promoveu na segunda-feira (23/8) uma live que abordou temas importantes dentro dessa temática: masculinidade tóxica, machismo estrutural, fazendo uma análise da masculinidade tóxica e do femininismo influenciados pelos personagens da Disney, que atravessam a vida cotidiana.

Coordenadora da Comissão, a juíza Léa Sarmento foi a mediadora do evento. Ela destacou a importância de refletir e debater um tema atual e importante como esse. “O objetivo é trazer um debate, pois, a partir do imaginário infantil, se possa refletir sobre o papel da mulher, da masculinidade que interfere na relação do homem. Queremos voltar o nosso olhar para a sociedade patriarcal, que reforça a figura do homem como figura dominante e, para manter este domínio, faz uso de várias espécies de violência contra a mulher. O que podemos entender por masculinidade tóxica? Qual a relação existente com o feminismo? Como isso pode repercutir na nossa vida? Como os contos de fada infantil podem contribuir com a formação da nossa identidade?”

Mestrando em jornalismo, imagem e entretenimento pela Faculdade Cásper Líbero, Hermínio Pessoa Neto apresentou um panorama do perfil dos personagens dos filmes da Disney, especialmente as princesas, fazendo uma análise da geração dos personagens e identidades criadas. “Hoje em dia falamos muito em representatividade. Precisamos ter uma referência das pessoas que vemos nas revistas, nas novelas, nos livros. Para falar da representação de gêneros, vamos tratar de uma potência que é a Disney, que está no imaginário popular. A Disney é o maior conglomerado de entretenimento, e com mais de 154 bilhões de receitas.”

Pessoa apresentou os personagens femininos que surgiram no ano de 1937 com a primeira produção de príncipe e princesa, que foi a “Branca de Neve e os 7 anões”, em comparação com a princesa Raya e o último dragão, lançada agora em 2021. “Essas princesas têm uma relação em que vamos discutir o papel do feminismo. A princesa que espera o seu príncipe encantado e a Raya, que é uma guerreira e criada somente por um pai amoroso e cuidadoso. Uma distante caracterização e construção de protagonismo femininistas separadas por 84 anos.”

Ele destacou ainda que, infelizmente, os filmes infantis criam estereótipos e preconceitos. E citou exemplos como de Ana Luisa, de nove anos, que sofreu racismo, quando uma mulher disse que não existia princesa negra.

O assessor de Comunicação Social do TRT8, Edney Martins, expôs os caminhos para construção de um pensamento machista, evidenciado nas rodas de amigos e conversas de aplicativos de mensagem. Ele fez referências à pesquisa sobre o comportamento dos homens em grupos de WhatsApp, desenvolvido pela professora Valeska Zanello, do Departamento de Psicologia Clínica da UNB, que evidencia o conceito da “casa dos homens”. “Traz à tona uma realidade que muitos homens conhecemos, que são os grupos. Neste grupos dos homens não existem limites para misoginia, para gordofobia, racismo, troca de imagens e mensagens, nudes de mulheres em diversas situações, mesmo que de suas companheiras.”

Edney Martins apresentou um panorama de como a questão do machismo ainda se agravou com a pandemia. “Nós, homens, precisamos ter coragem de falar disso sim, desta toxicidade, que tem uma construção de lógica que coloca um peso tão grande na mulher. Você consegue ver na pandemia, por exemplo, que a produção acadêmica das mulheres caiu, enquanto a dos homens aumentou. Porquê? Todos ficaram em casa, e se convencionou como natural as mulheres serem responsáveis por essa ‘carga mental’ intensa, sendo elas que devem ter as obrigações com pagamento de boletos, supermercados, levar criança na escola. O homem se coloca dentro de uma casa como se não precisasse fazer nada, por vezes não são nem provedores de nada, nem sequer de afeto.”

Mas o assessor do TRT8 afirmou que há uma luz de esperança no combate à masculinidade tóxica. “Existem muitos homens que estão enxergando que existe um campo feliz, fora dessa masculinidade adoecida, e muitos grupos foram criados nesse sentido de debate e divulgação de novas masculinidades possíveis.”

Durante a live, muitas pessoas participaram pelo chat. O internauta Bruno Dias Bastos exemplificou que ele foi criado por duas lideranças femininas. “Cresci em um lar onde minha mãe era a provedora e chefe da casa, o mesmo acontecia com minha avó e tia. Mulheres que sempre foram exemplo de força de trabalho, conquista. Tive uma surpresa quando descobri que o exemplo delas, não era exatamente o padrão no mundo, quando presenciei o machismo.”

Fonte: TRT8