Mulheres presas são duplamente discriminadas, diz corregedora Eliana Calmon

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A corregedora nacional de Justiça, ministra Eliana Calmon, afirmou, nesta quarta-feira (29/6), que as mulheres encarceradas sofrem dois tipos de discriminação. “Elas sofrem por serem mulheres e por estarem presas. As políticas públicas para o nosso esfacelado sistema carcerário são voltadas exclusivamente para o sexo masculino”, disse a corregedora, na abertura do Encontro Nacional sobre o Encarceramento Feminino, realizado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em Brasília. Segundo a corregedora, essa dupla discriminação  deve-se ao fato de as mulheres, historicamente, representarem um percentual muito pequeno – hoje é de 7,4% – dentro da população carcerária brasileira, o que levou as políticas públicas a serem direcionadas aos detentos do sexo masculino. “A situação das mulheres encarceradas é desconhecida até mesmo pelos movimentos feministas. Assim, cada vez mais elas ficam longe do alcance dos direitos humanos”, disse a corregedora, acrescentando que o encontro de Brasília dará maior visibilidade ao tema. Ela destacou que, além do encontro, outra iniciativa do CNJ foi a edição, no ano passado, da Portaria 1.010, que criou um Grupo de Trabalho exclusivamente para discutir soluções para a problemática feminina nas prisões.

Eliana Calmon acrescentou que a omissão da sociedade em relação ao encarceramento feminino impede que as mulheres presas se libertem de uma realidade perversa. Falta, segundo ela, uma estrutura adequada para as detentas grávidas. Além disso, inexistem políticas de saúde que atendem às particularidades do gênero feminino. Outro problema se refere a uma presença significativa de crianças nas unidades prisionais – cerca de 200 – em razão da ausência de uma política de atenção aos filhos das presas.

A corregedora também traçou um perfil das mulheres encarceradas. “Basicamente são mulheres não brancas, têm entre 18 e 30 anos, baixa escolaridade e, na maioria, condenadas por tráfico de drogas”, afirmou. Segundo ela, muitas vezes a mulher entra na criminalidade por influência do marido ou do namorado. “Geralmente as mulheres presas por tráfico de drogas são aquelas que tentaram entrar nos presídios para levar entorpecentes para os companheiros. Há, aí, um componente afetivo, típico das mulheres. Muitas delas cometem crimes por amor”, concluiu Eliana Calmon.

Jorge Vasconcellos
Agência CNJ de Notícias