Mais de 5 mil ações em dois anos de instalação de varas da mulher em MT

Compartilhe
Segunda, 22 de Setembro de 2008

Em dois anos de atuação da Primeira Vara Especializada no Combate à Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher de Cuiabá (MT) foram impetradas 5.401 ações judiciais. Já na Segunda Vara, foram 3.462 ações cíveis e criminais, no mesmo período. A  demanda expressiva demonstra a importância da atuação do Poder Judiciário de Mato Grosso no combate à violência doméstica e no cumprimento dos princípios norteadores dos Direitos Humanos.

O Tribunal de Justiça de Mato Grosso foi um dos pioneiros no país a atender o que determina a Lei 11.340/06 (Lei Maria da Penha) que, assim que foi sancionada, tornou-se referência nacional. O TJMT implantou há exatamente dois anos (22/09), a Primeira e Segunda Varas Especializadas no Combate à Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher de Cuiabá, que atendem junto ao Fórum da Capital, com estrutura específica para atender tanto as vítimas, como os próprios agressores. Uma equipe mutidisciplinar, formada por psicólogos e assistentes sociais, realiza acompanhamento e confecciona relatórios acerca dos casos atendidos no local.

Atualmente, o Estado conta com cinco varas especializadas, duas em Cuiabá, e as outras nas comarcas de Várzea Grande, Rondonópolis e Cáceres, onde são julgadas exclusivamente causas cíveis e criminais em que a mulher figura como vítima de violências física, psicológica, sexual, patrimonial e moral.

Estatística – O resultado do pioneirismo do TJMT na implementação da Lei Maria da Penha com a instalação das varas especializadas em violência doméstica e familiar contra a mulher pode ser mensurado, dois anos depois, a partir do número de procedimentos instaurados nas cinco varas especializadas do Estado.

Dados mostram que até a última quarta-feira (17/09), existiam 10.922 processos em tramitação nas cinco varas: 3.685 na Primeira Vara de Cuiabá; 1.433 na Segunda Vara Especializada de Cuiabá; e há atualmente 2.120 procedimentos instaurados na Vara Especializada de Várzea Grande.  Em Cáceres são 676 processos em andamento.

 Os autos revelam que a reincidência oscila entre 5 e 10%, mas os responsáveis pelas varas percebem que a tendência é ocorrer uma redução desse índice, devido à orientação dada às partes e, principalmente, por conta das audiências conciliatórias realizadas. Os principais agressores continuam sendo os maridos e os conviventes.

Para os juízes responsáveis, o ineditismo do Estado não está apenas na instalação das varas especializadas, mas na estrutura montada para que os trabalhos fossem desenvolvidos. O Tribunal de Justiça de Mato Grosso não apenas se preocupou com a estrutura física, as equipes de trabalho também foram devidamente capacitadas através de cursos apropriados.

A juíza Maria Mazarello Pinto explicou que tramitam atualmente 2.369 processos da Vara Especializada de Defesa da Mulher da comarca de Rondonópolis e ressaltou a importância da atuação nas ações de violência doméstica. “É de extrema relevância, porque centralizou as ações, que são múltiplas e descortinou essa dura realidade”, observou. Na comarca, a magistrada também desenvolve um trabalho de acompanhamento com casais.

Em Cáceres, a Vara Especializada de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher foi a mais recente instalada pelo Poder Judiciário. A Segunda Vara Criminal da Comarca de Cáceres passou a ser a Vara Especializada da Violência Doméstica, através do Provimento nº 08/2007 do Conselho da Magistratura do TJMT. O juiz Geraldo Fernandes Fidelis Neto, grande entusiasta da implementação da Lei Maria da Penha, informou que está sendo montada uma Rede de Proteção à Mulher. O trabalho já conta com a participação de 51 entidades entre governamentais e não-governamentais.

Modelo na aplicação da Lei Maria da Penha -“As leis podem ser muito boas, mas não são boas sozinhas. É preciso que exista um Judiciário empenhado em aplicá-las. E Mato Grosso dá esse exemplo”. A afirmação é da presidente da Internacional Association of Women Judges (IAWJ), Leslie Alden, durante palestra que antecedeu uma confraternização entre as juízas norte-americanas, Arline Pacht, Joan Winship e Leslie Alden, e magistradas mato-grossense, na noite da última sexta-feira (19/9), em Várzea Grande (MT). Leslie Alden elogiou o pioneirismo do Poder Judiciário de Mato Grosos em implementar as primeiras varas especializadas em defesa dos direitos humanos das mulheres.

Para a magistrada a maior esperança para o nosso futuro é que as mulheres possam ter voz e possam decidir, já que, em sua opinião, não é possível mais o mundo fechar os olhos para situações de violência contra a mulher. “A violência contra a mulher é um dos aspectos da discriminação de gêneros”, afirmou a juíza americana, lembrando que a violência doméstica passou a ter mais visibilidade com o surgimento, nos anos 80, dos primeiros tribunais de combate á violência nos Estados Unidos. Hoje são 300 em todo o mundo.

Para a presidente da IAWJ, apesar dos avanços, ainda existem grupos de cidadãs que tem dificuldade em ter acesso às leis: são as mulheres pobres, as indígenas e as migrantes. “Essa dificuldade passa por problemas financeiros, que lhes impossibilitam chegar a um tribunal”, afirmou Leslie Alden.
 
A magistrada lembrou que ainda hoje as mulheres convivem com situações de violências como o tráfico de mulheres e crianças, o aborto, a negação de acesso á saúde, o HIV, mutilação genital, casamentos forçados e o estupro nas áreas de guerra. A juíza Leslie Alden, convocou as magistradas mato-grossenses a abrirem os braços aos mais necessitados, de modo que todos possam viver num mundo livre de violência, de fome e de medo e tenham seus direitos respeitados.

Fonte: Assessoria de Comunicação TJMT