Juiz utiliza psicologia e até língua estrangeira em acordos em Canoinhas

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A Vara do Trabalho de Canoinhas apresentou o terceiro melhor índice de conciliação em Santa Catarina nos primeiros 10 meses do ano. De cada 100 processos solucionados, os dois juízes da unidade conseguiram acordos em 89. O resultado fica atrás somente da VT de Videira (90,01%) e da 3ª VT de Chapecó, que apresentou o melhor desempenho entre as 60 unidades trabalhistas, com 90,43% de conciliações.

Mais do que números, a unidade situada no planalto norte catarinense coleciona histórias. Uma briga de compadres por causa de uma moto e uma conversa em polonês são duas entre tantas que se converteram em acordo.

Para o juiz titular da VT de Canoinhas, Lauro Stankiewicz, o segredo é ter paciência e não olhar para o relógio. “Sempre começo a audiência perguntando às partes como eu posso ajudar para chegar ao acordo”, diz o magistrado. “Muitas vezes, as pessoas querem apenas atenção. Por isso, é importante dar liberdade para que se manifestem”, ensina.

Num desses casos, conta o juiz, dois compadres iniciaram uma disputa. Na primeira audiência, o clima de tensão e a discrepância entre o que um pedia (R$ 50 mil) e o que o outro estava disposto a pagar (R$ 5 mil) levaram Stankiewicz a marcar um novo encontro. O acordo foi firmado na segunda audiência. “O reclamante confessou que entrou com a ação trabalhista porque queria a atenção do compadre reclamado. E tudo por causa do empréstimo que um havia feito ao outro para comprar uma moto e que ainda não havia sido quitado. Era muita mágoa acumulada, mas no final eles até dividiram os honorários do advogado”, conta o juiz.

Sem dormir – Em outras situações, o magistrado precisa utilizar toda a psicologia que dispõe para tentar o acordo. E até falar polonês. Foi o que aconteceu em outra ação, em que um idoso acabou sendo processado pela empregada doméstica. “Quando soube que teria que entrar pela primeira vez em sua vida num órgão da Justiça, esse senhor ficou uma semana sem dormir direito, conforme me relatou a advogada dele”, recorda o magistrado.

Chegou o dia da audiência e os nervos estavam à flor da pele. Descendente de poloneses, Stankiewicz percebeu que o sobrenome do réu poderia ter origem semelhante. Para descontrair, puxou assunto e perguntou se ele tinha a mesma descendência. “Não só tinha, como trocamos algumas palavras em polonês e ainda consegui convencê-lo a fazer o acordo. E até hoje, segundo a advogada, ele pergunta se pode aparecer na vara para exercitar o polonês”, lembra o juiz.

Resolver tudo em audiência é outra prática que Lauro Stankiewicz adota para ter sucesso nos acordos. “E sempre apresentando os cálculos, pois com os números na mão é sempre mais fácil para as partes chegarem à conciliação”, ressalta. O juiz afirma que a Vara do Trabalho de Canoinhas não conseguiria alcançar o elevado índice de conciliações sem a retaguarda dos servidores e o apoio do juiz substituto, Cezar Alberto Martini Toledo. “Todos aqui trabalham em muita sintonia, sempre pensando na possibilidade de acordo”, elogia.

Fonte: TRT-SC