Começar de Novo: funcionário do CNJ comemora retomada da vida

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O brasiliense J. A. F, de 26 anos, viu sua vida mudar radicalmente, e para melhor. Há sete meses, passou a trabalhar como auxiliar administrativo no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), encarregado de organizar documentos e envolvido com outras tarefas. Além disso, mergulha nos estudos e sonha entrar na faculdade. O funcionário comemora a nova rotina, bem diferente da que viveu nos três anos e três meses cumprindo pena em regime fechado no sistema carcerário do Distrito Federal.

O jovem é uma entre as mais de mil pessoas beneficiadas pelo Programa Começar de Novo, lançado pelo CNJ em 2009 com o objetivo de reduzir a reincidência criminal por meio da capacitação profissional e oportunidades de emprego. Beneficiado pela progressão de pena, J. A. F hoje está no regime aberto, tendo que, após o expediente no CNJ, dormir em casa, onde vive com os pais e dois irmãos.

O Começar de Novo foi o caminho para que muitos pudessem recomeçar a vida, trabalhando em órgãos públicos e no setor privado, em diversos ramos de atividade. Os pilares do programa são a inclusão produtiva, com qualificação profissional, e proteção social às famílias, fundamentais para reinserção social e redução da reincidência na criminalidade. Em entrevista à Agência CNJ de Notícias, J. A. F. afastou qualquer possibilidade de retorno à vida que levava. “Quando uma pessoa tem oportunidade de trabalhar, ela fica ocupada, todos os dias se dedicando ao trabalho. Isso ajuda a se desligar do mundo da criminalidade”. A seguir, a entrevista:

1) Como você define o atual momento de sua vida?

R- É uma oportunidade divina que eu estou vivenciando hoje. Acho que é uma experiência tão nova e que foi um sonho que se realizou. Quando eu estava dentro do cárcere, sonhava em ter uma vida totalmente mudada. Hoje minha vida foi renovada totalmente, através de Jesus Cristo, porque, realmente, a vida sem um fundamento se torna um precipício. Hoje posso dizer plenamente que sou uma pessoa totalmente mudada. Não só pelo meu esforço, mas também pelo apoio grande que eu tenho da minha família e das pessoas que acreditaram em mim e que realmente contam comigo. Então, eu sei que tenho uma capacidade de mudar e, através de Deus, eu fui agraciado.

2) Quais os seus planos para o futuro?

R- Os meus planos para o futuro são continuar os meus estudos. Já terminei o ensino médio. Quero ingressar em uma faculdade e, no dia-a-dia, levar uma vida normal como um cidadão digno e íntegro no meio da sociedade.

3) Quem era você ontem e quem é hoje?

R- Ontem, eu era uma pessoa bruta, uma pessoa que não pensava, não tinha mente, uma pessoa que estava sendo levada pelo vício e pelas más companhias. Acabei entrando em um caminho que tem volta, mas ontem eu era uma pessoa que não tinha parte do mundo social, um mundo no qual uma pessoa honesta vive. Eu andava no lado oposto, praticando aquilo que não era lícito diante das leis humanas. Então, ontem eu era uma pessoa mal vista pela sociedade. Hoje não, hoje eu sou uma pessoa mudada, uma pessoa que pensa no futuro e vê a vida com outros olhos. Hoje eu vejo diferente. Vejo que as oportunidades estão aí e estou disposto a agarrá-las de todas as maneiras, sem maltratar ninguém, sem menosprezar ninguém, levando uma vida totalmente normal, sincera e verdadeira, procurando respeitar as pessoas como outrora eu não respeitava; eu levava uma vida totalmente desordenada. Hoje, pela graça de Deus, eu levo uma vida sincera e verdadeira perante todos que me conhecem.

4) O Programa Começar de Novo do CNJ parte do princípio de que o egresso do sistema carcerário que consegue um emprego dificilmente retorna à criminalidade. Isso se aplica a sua vida?

R- Com certeza. Quando uma pessoa tem oportunidade de um trabalho ela fica ocupada, todos os dias se dedicando ao trabalho. Isso ajuda a se desligar do mundo da criminalidade. Então você volta a sua vida para dentro do seu trabalho, levando uma rotina totalmente diferente. As oportunidades vêm e nós temos que abraçá-las. Não importa o que vão falar de nós. O que importa é que nós estamos determinados a mudar a história, a mudar o nosso viver, a nossa vida e, através do nosso trabalho digno, mostrar para nós mesmos que mudamos, que realmente temos potencial. Assim também temos a possibilidade de crescer.

5) O que precisa mudar na sociedade para que outros egressos do sistema carcerário possam recomeçar a vida com dignidade?

R- Precisa mudar a maneira de as pessoas olharem os próximos. Hoje elas desacreditam, não dão crédito àquela pessoa que, outro dia, no passado, cometeu um delito que hoje, pelos olhos da sociedade, é uma coisa que não tem mais volta. Ou seja, você cometeu um delito e acaba se tornando uma pessoa que deve ser eternamente punida. Você não tem mais direito e, por causa daquilo que você fez, as pessoas acham que você não mudou. Te julgam pelo passado, sendo que você, verdadeiramente, é uma pessoa que mudou. A sociedade só vê o que a pessoa era, o que ela fez de ruim. Então, o que precisa mudar na sociedade é o modo de ver por que as pessoas cometeram algum erro. Acho que é preciso acabar com o preconceito, a desigualdade racial, a discriminação contra o ex-presidiário, e acreditar que, realmente, ele pode ter um espaço na sociedade, levar uma vida honesta. 

Jorge Vasconcellos
Agência CNJ de Notícias