Tráfico de pessoas e envolvimento de “crime organizado”

(problemas de) análise da jurisprudência penal de 2017 a 2020

Autores

  • Sven Peterke Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
  • Vítor Domingues Duarte Paiva Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
  • Raphael Varelo Bonfim Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Palavras-chave:

Tráfico de pessoas., Organizações criminosas, Art. 149-A, § 2°, CP, Jurisprudência, Lei 14.133/2021, Lei 13.344/2016

Resumo

Há um amplo consenso na comunidade internacional de Estados de que o tráfico de pessoas tende a envolver o chamado “crime organizado”. O legislador brasileiro incorporou essa hipótese, pelo menos indiretamente, no art. 149-A do Código Penal, cujo § 2º estabelece a obrigação de diminuir a pena “se o agente for primário e não integrar organização criminosa”. Tendo como objetivo principal compreender melhor de que forma o Judiciário já conseguiu operacionalizar a lex mitior, identificando ou não tais coletividades, a presente contribuição analisa a pertinente jurisprudência dos anos 2017 a 2020. Aplicando o método indutivo, esta pesquisa documental e qualitativa revela uma série de desafios e problemas tanto de natureza analítica como forense. Conclui-se que a justiça brasileira, à luz de material comprobatório, muitas vezes, incompleto, não consegue afirmar a hipótese de um frequente envolvimento de organizações criminosas.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Sven Peterke, Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Professor Associado no Centro de Ciências da Universidade Federal da Paraíba. Doutor em Ciências Jurídicas e Mestre em Assistência Humanitária Internacional pela Ruhr-Universität Bochum, Alemanha. Membro honorário do Comitê Estadual de Enfrentamento ao Tráfico e Desaparecimento de Pessoas da Paraíba (CETDP/PB).

Vítor Domingues Duarte Paiva, Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Graduando do curso de Direito da Universidade Federal da Paraíba. Ex-bolsista PIBIC-CNPq (IC) do projeto Tráfico de pessoas e envolvimento de crime organizado (2020-2021).

Raphael Varelo Bonfim, Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Graduando do curso de Direito da Universidade Federal da Paraíba. Ex-bolsista PIBIC-Balcão (IC) do projeto Tráfico de pessoas e envolvimento de crime organizado (2020-2021).

Referências

ALBINI, Joseph L.; MCILLWAIN, Jeffrey Scott. Deconstructing organized crime: an historical and theoretical study. Jefferson, North Carolina: McFarland & Company, Inc., Publ., 2012.

ANDRADE, Francisco Eduardo Falconi de. Tráfico internacional de pessoas e prostituição: paradoxos entre o Protocolo de Palermo e o Código Penal Brasileiro no tocante ao consentimento. Revista da Defensoria Pública da União, Brasília, v. 9, p. 405-428, 424, jan./dez. 2016.

BRASIL. Decreto n. 5.015, de 12 de março de 2004. Promulga a Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional. Diário Oficial da União, Brasília, 12 mar. 2004. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5015.htm. Acesso em: 11 set. 2023.

BRASIL. Decreto n. 5.017, de 12 de março de 2004. Promulga o Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças. Diário Oficial da União, Brasília, 12 mar. 2004. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5017.htm. Acesso em: 11 set. 2023.

CHUANG, Janie. Preventing trafficking through new global governance. Georgia State University Law Review, Atlanta, v. 36, n. 4, 2020, p. 1027-1058.

CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Caso trabalhadores da Fazenda Brasil Verde vs. Brasil, sentença de 20 de out. de 2016. CIDH, 2016. Disponível em: https://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_318_por.pdf. Acesso em: 11 set. 2023.

DOLBY, Natasha. Domestic sex trafficking of children in Brazil. Stanford University: WSD Handa Center for Human Rights & International Justice, July 2018. Disponível em: https://humanrights.stanford.edu/sites/g/files/sbiybj5951/f/publications/ domestic_ child_trafficking_brazil_dolby_final_report.pdf. Acesso em: 11 ago. 2022.

EREZ, Edna. Women as victims and survivors in the context of transnational human trafficking for commercial sex exploitation. Revue internationale de droit penal, Paris, v. 81, n. 3, 2010. p. 551-562.

FINANCIAL ACTION TASK FORCE (Org.). Financial flows from human trafficking. FATF Report, July 2018. p. 10. Disponível em: https://www.fatf-gafi.org/media/fatf/content/images/human-trafficking-2018.pdf. Acesso em: 8 set. 2022.

FISH, Caroline A. Extraterritorial human trafficking prosecutions: elimination zones of impunity within the limits of international law and due process. St. John’s Law Review, Nova York, v. 91, n. 21, 2017, p. 529-557.

FREITAS, Vladimir Passos de. Segredo de Justiça ainda desperta na sua aplicação. Consultor Jurídico, 25 jul., 2015. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2015-jul-26/segunda-leitura-aplicacao-segredo-justica-ainda-desperta-duvidas. Acesso em: 12 set. 2022.

GALLAGHER, Anne T. The international law of human trafficking. Cambridge: Cambridge University Press, 2010.

HEINTZE, Hans-Joachim; LÜLF, Charlotte. The UN Trafficking Protocol to Prevent, Suppress, and Punish Trafficking in Persons 2000. In: HAUCK, Pierre; PETERKE, Sven (Eds.). International law and transnational organised crime. Oxford: Oxford University Press, 2016. p. 150-168.

HEINTZE, Hans-Joachim; LÜLF, Charlotte; PETERKE, Sven. Conteúdo e significado do protocolo da ONU relativo à prevenção, repressão e punição do tráfico de pessoas 2000. In: SOUSA, Heloísa Bicalho de et al. (Org.). Desafios e perspectivas para o enfrentamento ao tráfico de pessoas no Brasil. Brasília: Ministério da Justiça, 2011. p. 62-82.

HEMMINGS, Stacey et al. Responding to health needs of survivors of human trafficking: a systematic review. BMC Health Services Research, Londres, v. 16, 2016. p. 1-9.

INTERNATIONAL LABOUR ORGANIZATION; WALK FREE FOUNDATION. Global estimates of modern slavery: forced labour and forced marriage. Geneva: ILO, 2017.

JESUS, Damásio. Tráfico internacional de mulheres e crianças Brasil: aspectos regionais e nacionais. São Paulo: Saraiva, 2003.

LAMPE, Klaus von. Analyzing illegal activities, criminal structures, and extra-legal governance. Los Angeles: SAGE Publ., 2016.

MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de direito internacional público. 10. ed. São Paulo: Thomson Reuters; Revista dos Tribunais, 2016.

MEDEIROS, Monique Ximenes Lopes de Medeiros; PETERKE, Sven. A múltipla violação dos direitos humanos das vítimas do tráfico de pessoas. In: ANJOS FILHO, Robério Nunes dos (Org.). Direitos humanos e direitos fundamentais: diálogos contemporâneos. Salvador: JusPodivm, 2013, p. 535-553.

MILANO, Valentina. Human Trafficking by regional human rights courts: an analysis in light of Hacienda Brasil Verde, the first Inter-American Court’s Ruling in the area. Revista Eletrônica de Estudios Internacionales, Madrid, v. 36, 2018, p. 1-29.

MINGA, Ester Amaral de Paula. Trafficking and prostitution of brazilian women in Portugual: the journalistic discourse between the stereotyping and the victimization. Brazilian Journalism Research, v. 16, n. 2, 2020, p. 292-319.

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. MPF/TO: Justiça condena quadrilhas traficando mulheres para a Espanha. Jusbrasil, 2014. Disponível em: https://mpf.jusbrasil.com.br/noticias/134378877/mpf-to-justica-condena-quadrilhas-que-traficavam-mulheres-para-a-espanha . Acesso em: 26 jun. 2022.

NOGUEIRA, Daniela Saab; GUTIERREZ, José Paulo. Reflexos do direito internacional no crime do tráfico de pessoas. Revista de Direito Cosmopolita, Rio de Janeiro, v. 4, n. 1, p. 27-44, 33, 2017.

PETERKE, Sven; GAMA, Ana Patrícia da C.S.C.; VIANA, Letícia Matos. A (Ir)relevância do conceito de exploração para a perseguição judiciária do crime do tráfico de pessoas. In: BATISTA, Gustavo Barbosa de Mesquita; FRANÇA, Marlene H. de Oliveira (Orgs.). Debates político-criminais: múltiplas abordagens. Ebook: Studio, 2021. p. 187-202.

PETERKE, Sven; NEGREIROS, Felipe. Strafbarkeit des Menschenhandels nach brasilianischem Recht: Anmerkungen im Lichte des VN-Protokolls zur Verhütug, Bekämpfung und Bestrafung des Menschenhandels 2000. Zeitschrift für Internationale Strafrechtsdogmatik, v. 7, n. 4, 2012. p. 152-162.

SANTARÉM, Vivian Netto Machado. Tráfico de pessoas: uma análise da Lei 13.344/2016 sob a perspectiva dos direitos humanos. Revista da Defensoria Pública da União, Brasília, v. 11, 2018, p. 33-49.

SCACCETTI, Daniela Muscari. Compensação para vítimas de tráfico de pessoas: modelos e boas práticas na ordem internacional. In: MINISTÉRIO DA JUSTIÇA (Org.). Tráfico de pessoas: uma abordagem para os direitos humanos. Brasília: Ministério da Justiça, 2013. p. 507-536.

SHELLEY, Louise. Human trafficking: a global perspective. Cambridge University Press: Cambridge et al., 2010.

SHELLEY, Louise. The relationship of drug and human trafficking: a global perspective. European Journal on Criminal Policy and Research, Berlim, v. 18, 2012, p. 241-253.

SIFUENTES, Mônica. Críticas à Lei 13.344/2016: tráfico de pessoas. Revista do Tribunal Regional da 1ª Região, Brasília, v. 31, n. 3, p. 6-16, 11, 2019.

SOUZA, Cláudio de Macedo. Cooperação penal internacional: uma metodologia baseada na definição de crime organizado transnacional. Revista Brasileira de Direito Internacional, Brasília, v. 3, n. 1., p. 74-81, jan./jun. 2017.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Agravo em Recurso Especial n. 1.131.361-RJ (2017/016492-4’), Certidão, de 19 de set. de 2019. Brasília: STJ, 2019.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Agravo em Recurso Especial n. 1.267.282 – SP (2018/0066737-9), de 7 de maio de 2019. Brasília: STJ, 2019.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Agravo em Recurso Especial n. 1.625.279-TO (2019/0349574-2), Certidão, de 23 de jun. de 2020. Brasília: STJ, 2020.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. HC n. 486.268-SC (2018/034419-8), de 24 de dez. de 2018. Brasília: STJ, 2018.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. HC n. 602159-SP (2020/0191972-1), de 7 de ago. de 2020. Brasília: STJ, 2020.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. HC n. 578.044 – SP (2020/0101945-7), de 7 de maio de 2022. Brasília: STJ, 2022.

UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIM (Org.). Global Report on Trafficking in Persons 2020. New York: UNODOC, 2020.

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO. Apelação Criminal 2007.35.02.003776-0/GO, n. 37368420074013502, Acórdão de 17 de abr. 2018. Brasília: TRF1, 2018.

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO. Apelação Criminal 2007.43.00.003533-3/TO, Acórdão, de 27 de fev. 2018. Brasília: TRF1, 2018.

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO. Apelação Criminal n. 0002955-90.2005.4.03.6181/SP, de 15 de fev. 2017. São Paulo: TRF3, 2017.

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO. Apelação Criminal n. 0003569-27.2007.4.03.618, de 20 de set. de 2017. São Paulo: TRF3, 2017.

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO. Apelação Criminal n. 5004784-67.2016.4.04.7002/PR, de 5 de dez. de 2017. Porto Alegre: TRF4, 2017.

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO. Revisão Criminal, RVCR 0001037-54.2016.4.04.0000 SC 0001037-54.2016.4.04.000, de 18 de out. de 2018. Porto Alegre: TRF4, 2018.

U.S. DEPARTMENT OF STATE. Trafficking in Persons Report: Brazil. Washington: U.S. Department of State, 2021. Disponível em: https://www.state.gov/reports/2021-trafficking-in-persons-report/brazil/. Acesso em: 15 set. 2022.

ª VARA CRIMINAL FEDERAL DE SÃO PAULO. N. 5000005-32.2019.403.6181, sentença de 12 de fev. 2020. São Paulo, 2020.

ª VARA CRIMINAL FEDERAL DE SÃO PAULO. N. 5003826-44.2019.4.03.6181, sentença de 5 de mar. de 2020. São Paulo, 2020.

WALK FREE (Org.). Global Slavery Index: Brazil. Disponível em: https://www.globalslaveryindex.org/2018/findings/country-studies/brazil/. Acesso em: 11 set. 2022.

Downloads

Publicado

2023-12-14

Como Citar

PETERKE, S.; PAIVA, V. D. D.; BONFIM, R. V. Tráfico de pessoas e envolvimento de “crime organizado”: (problemas de) análise da jurisprudência penal de 2017 a 2020. Revista CNJ, Brasília, v. 7, n. 2, p. 214–243, 2023. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/ojs/revista-cnj/article/view/388. Acesso em: 28 abr. 2024.

Edição

Seção

Artigos