O “cara” não é mais aquele que sai com uma arma

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Em Vitória, Capital do Espírito Santo, o ex-detento Roberto Alves Gonzaga toca sua empresa do ramo da construção civil e, como faz a Lázara no Mato Grosso do Sul, dá oportunidades para quem também quer mudar de vida. No momento, Roberto emprega oito detentos em sua empresa, a Crips Brasil Edificações, que presta serviços de construção, reforma, instalação e pintura. Segundo o empresário, o número de funcionários pode variar, de acordo com o tamanho da obra.

Roberto disse que sua prioridade é contratar detentos e egressos do sistema carcerário. “A Justiça e o governo do Estado me ajudaram. E, agora, eu quero ajudar quem precisa. Eu só não contrato detentos e egressos se não houver mesmo condições em termos de disponibilidade da mão de obra deles”, disse o empresário.
 
Ele conta que, ainda na prisão, fez dois cursos de capacitação profissional, de técnico em elétrica e hidráulica. Quando teve a pena progredida para o regime semiaberto, procurou emprego mas encontrou o preconceito. “Viram que eu era um detento e me dispensaram”, lembra Roberto.
 
Ele não desistiu. Recorreu a uma empresa parceira da Secretaria de Justiça na ressocialização de detentos e foi recebido de braços abertos. Passou a trabalhar na empresa, conseguiu uns trabalhos extras até que decidiu montar o próprio negócio. Com a orientação do Sebrae, montou a Crips Brasil Edificações. “Hoje eu me sinto realizado”, comemora Roberto, que quer mais: vai fazer, a partir do próximo ano, o curso superior de Engenharia, graças a uma bolsa integral oferecida pela Secretaria de Justiça. “Hoje eu estou realizado”.
 
Reeducação

Já Mauro Sérgio Félix, de 23 anos, também ex-detento, conseguiu uma colocação no mercado de trabalho por meio do Projeto Reeducar, do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM), voltado à capacitação profissional. Após conseguir diplomas em cinco cursos profissionalizantes, hoje trabalha em uma empresa de assistência técnica de vídeo, som e refrigeração.
 
“Hoje eu sou o cara. O cara não é aquele que pega uma arma e sai assaltando. O cara é aquele que vai à luta, faz cursos, consegue um emprego e dá a volta por cima. Meu exemplo pode ser seguido por outros que enfrentaram os mesmos”, disse o rapaz, que já tinha passado por várias empresas mas, sem nenhuma qualificação, não conseguia se manter no emprego. Foi aí que recorreu ao Reeducar.
 
“Eu comecei a me qualificar e entrei no mercado de trabalho. Comecei fazendo curso e hoje estou trabalhando em uma empresa há quatro meses como técnico em refrigeração. Aquela imagem de  bandido já acabou, não existe mais. É um novo tempo que está vindo agora. Eu creio que assim como eu posso, esses que estão aqui também podem. É difícil, a gente passa por dificuldades, por problemas, mas dos problemas a gente faz a vitória. Hoje estou terminando os meus estudos e já estou pensando em uma faculdade. Agora sou um cidadão e posso andar por onde quero”.

Jorge Vasconcellos

Agência CNJ de Notícias