A terceira retrospectiva da Capacitação em Diversidade, Equidade e Inclusão no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) traz um compilado do que foi debatido nos dois últimos módulos do curso: “Acessibilidade e inclusão para pessoas com deficiência” e “Autismo”. Os treinamentos são promovidos pelo Serviço de Qualidade de Vida no Trabalho e Atenção Psicossocial (SEQVT) da Secretaria de Gestão de Pessoas (SGP) e seguem até o dia 3 de maio na plataforma Microsoft Teams.
O debate sobre “Acessibilidade e inclusão para pessoas com deficiência” foi aberto pela juíza auxiliar da presidência do CNJ e presidente da Comissão de Acessibilidade e Inclusão do Conselho, Dra. Dayse Starling Motta. Na ocasião, a magistrada afirmou que atualmente só se fala em inclusão porque em algum momento a sociedade passou a isolar determinados grupos de pessoas. “É preciso não excluir, resgatar os excluídos e ter uma visão de inclusão para os novos que chegam”, afirmou.
A consultora em diversidade Flávia Cortinovis, que atua na área da empregabilidade da pessoa com deficiência, foi a palestrante convidada para o debate. Ela iniciou sua apresentação fazendo uma diferenciação conceitual entre diversidade e inclusão. A primeira representa o conjunto de duas ou mais pessoas; já a segunda carrega um significado de pertencimento. “A diversidade está presente em todos os espaços que frequentamos. Se não enxergamos a diversidade humana em um local, não há inclusão”, destacou.
A palestrante trouxe dispositivos legais importantes para o tema, como a Lei n. 13.146, de 6 de junho de 2015, conhecida como Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), “destinada a assegurar e promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania”. Outra legislação colocada à luz do debate foi o Decreto n. 6.949, de 25 de agosto de 2009, que promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova Iorque, dois anos antes. Pelo documento, a Convenção se propõe a “promover, proteger e assegurar o exercício pleno e equitativo de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais por todas as pessoas com deficiência e promover o respeito pela sua dignidade inerente”.
Flávia reforçou que a linguagem do dia a dia pode ofender as pessoas portadoras de deficiência e algumas expressões podem revelar microagressões, capacitismo, discriminação e preconceito social contra esses indivíduos. Usar frases como: “fulano se fez de surdo” e “ciclano deu uma de João sem braço” ou termos como “problema mental” e “retardado(a)” são algumas expressões que devem ser eliminadas do vocabulário por serem carregadas de ofensa e discriminação.
A acessibilidade deve ser específica para cada tipo de deficiência. A deficiência intelectual, por exemplo, pede uma linguagem simples e de leitura fácil, enquanto a deficiência física requer rampas, piso direcional, banheiros acessíveis e transporte adaptado. “Para a maioria das pessoas, a acessibilidade torna a vida mais fácil. Para as pessoas com deficiência, torna as coisas possíveis”, destacou Flávia.
Na intranet do CNJ, é possível visualizar, do lado direito, ícones de acessibilidade, que fazem a tradução do texto da página para libras, para uso de deficientes auditivos, e a leitura do texto em áudio para deficientes visuais.
Saiba como foi o debate sobre acessibilidade e inclusão das pessoas com deficiência.
O “Autismo” foi o tema apresentado por Marcos Petry, youtuber do canal “Diário de um autista”, que conta com mais de 165 mil seguidores. Para compartilhar a mensagem de que a inclusão começa em casa, o palestrante trouxe sua mãe, Arlete Petry. Ela compartilhou sua experiência e seus desafios como mãe de um autista. “Paciência e persistência é a chave do sucesso”, afirmou.
O autismo é, na verdade, um transtorno. É uma condição geral para um grupo de desordens complexas do desenvolvimento do cérebro, que afeta a linguagem e os processos de comunicação, a interação e o comportamento social. “A deficiência é uma condição de desenvolvimento diferente e que se expressa em todos os contextos, classes sociais e idades. O maior problema está no julgamento e na falta de empatia”, ponderou Marcos.
O youtuber falou sobre a forma como experimenta sensações do dia a dia, tais como: abraços e ações como pegar um lápis do chão. O palestrante apresentou, ainda, três pontos fundamentais para ajudar pais a entenderem seus filhos autistas: crianças com essa condição aprendem vendo, são literais e pragmáticas, por isso, precisam de um método claro de ensino.
A inclusão deve acontecer aos poucos com o apoio da família, da escola e da comunidade, mas sem esquecer que a criança ainda precisa ser criança. “As pessoas sem deficiência saem ilesas do capacitismo, enquanto pessoas com deficiência têm sua autoestima destruída”, apontou Marcos.