O que é o burnout: psiquiatra desmistifica a doença em palestra sobre saúde mental

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Na última quinta-feira (20/6), aconteceu a palestra “Burnout, saúde mental e assédio no trabalho”, promovida pela Seção de Qualidade de Vida no Trabalho e Atenção Psicossocial do Conselho Nacional de Justiça (SEQVT/CNJ). O evento foi conduzido pelo psiquiatra Estevam Vaz, autor do livro “Burnout, a doença que não existe”.  

Após agradecer o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) pela oportunidade, o palestrante convidado afirmou que o assédio moral é um dos maiores problemas geradores de adoecimento relacionado ao trabalho. “Um ato isolado de humilhação, se extremamente traumático, pode produzir o adoecimento imediato da pessoa, caracterizando assédio moral”, explica o médico, ao relembrar ocasiões em que já tratou pacientes com risco de suicídio desencadeado por um único evento danoso.  

“O psiquiatra é a última porta à qual a vítima do assédio moral bate, e, quando ela chega, é porque os piores efeitos [do assédio] já aconteceram”, comenta o médico ao afirmar que o assédio moral não é um diagnóstico psiquiátrico, mas, ao psiquiatra, chegam as suas consequências, como os transtornos de estresse agudo, de estresse pós-traumático e de adaptação. 

Segundo Estevam, a noção de transtornos de estresse surgiu durante a Guerra Civil Americana, na qual os indivíduos eram diagnosticados com a “síndrome do coração irritável”. “O que hoje conhecemos como estresse pós-traumático, já foi chamado de ‘fadiga de combate’ durante a Primeira Guerra Mundial e de ‘neurose traumática’ durante a Segunda. O conceito atual foi desenvolvido após a Guerra do Vietnã”, explica.  

Mais tarde, percebeu-se que os transtornos de estresse não estavam restritos apenas a situações de guerra, mas se manifestam também em outras circunstâncias na forma de transtornos de adaptação, em que respostas a fatores estressores provocam ansiedade, depressão, falhas cognitivas, irritabilidade e insônia.  

Sobre a síndrome de burnout, o psiquiatra ressaltou que seu ponto de vista acerca da doença é crítico, afirmando que “o que mais se tem sobre o tema é desinformação”. O médico percebeu pontos na literatura que não se encaixavam nos quadros psiquiátricos, visto que os indicativos de burnout também são sintomas de indivíduos que apresentam humor polarizado para depressão, o que gera diagnósticos incorretos. 

“Atualmente, na literatura internacional, existem cerca de 132 sintomas de burnout, e, na brasileira, encontrei mais oito”, conta o médico ao afirmar que não é possível que uma doença possua 140 sintomas. A Organização das Nações Unidas (OMS), por exemplo, não classifica o burnout como uma condição médica, mas como um fenômeno ocupacional. 

Segundo o psiquiatra, existe uma linha de pensamento que aponta que o burnout deveria ser identificado como um problema sociológico e cultural. “Há uma enorme confusão entre a linguagem popular e a técnica sobre o tema. O burnout é uma metáfora disfarçada de diagnóstico”, explica.

Texto: Tatiana Vaz
Edição: Mirela Lopes
Comunicação Interna