E se o mundo não fosse acessível para você?

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Imagine acordar em um mundo em que cada passo é um desafio, cada porta é um obstáculo e cada interação é uma batalha silenciosa por inclusão. Essa é a realidade de milhões de pessoas com deficiência ao redor do mundo. E se, de repente, o mundo ao seu redor se tornasse inacessível, transformando simples tarefas diárias em complexas jornadas?  

É hora de explorar o impacto da falta de acessibilidade e refletir sobre a importância de tornar o mundo verdadeiramente inclusivo e acessível para todos. 

Julianne Soares, servidora do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), é cega de um olho e possui baixa visão no outro, em decorrência de um glaucoma congênito. Formada em História, ela contou com o apoio de colegas, ao longo da vida, para auxiliá-la nos estudos: uma colega fazia as leituras em voz alta, e outra, que trabalhava na administração da faculdade, conseguia os materiais impressos e ampliados.  

Sabendo que seu acesso ao mercado de trabalho seria difícil, Julianne optou por prestar concurso público. “O CNJ foi o primeiro órgão onde as pessoas me perguntaram do que eu precisava para fazer meu trabalho. Geralmente sou eu que me adapto e encontro uma forma para conseguir enxergar”, conta ao lembrar como foi bem recebida no Conselho em 2017.  

Hoje, lotada na Seção de Arquivo e de Gestão Documental do Conselho, Julianne exerce suas funções em uma sala localizada no Supremo Tribunal Federal (STF), para ficar perto de seu filho no berçário do órgão. A servidora utiliza alguns recursos especiais, como a ampliação de tela do Windows e o software Non Visual Desktop Access, conhecido como NVDA, que faz a leitura da tela do computador. Além disso, Julianne faz uso de um óculos especial que, além do grau, possui a função de lupa. “Foi o melhor recurso que consegui desde pequena. Uso desde 2010, quando uma médica sugeriu misturar o meu grau com a lupa para ajudar a ler e ampliar. Antes, eu usava a lupa, o que doía a mão”, conta. 

“Cada deficiência tem sua especificidade e sua limitação. Cada pessoa prefere de um jeito”, pontua Julianne, ao afirmar que, em seu dia a dia, a claridade da sala em que trabalha, bem como a posição de sua mesa são fatores relevantes para que consiga cumprir suas funções. “Como meu campo visual é muito pequeno, por causa da baixa visão, a claridade também deve estar adequada à minha situação. Se a janela estiver atrás da tela, minha visão fica desfocada”, explica. A quantidade incorreta de luz, acarreta, por exemplo, dores de cabeça e fadiga.  

Julianne não consegue ver as pessoas com detalhes. “Minha visão é chuviscada e desfocada. Reconheço as pessoas pela voz, não pelo físico”. Por isso, a servidora ressalta a importância de conhecidos anunciarem seu nome quando se aproximam e de pessoas novas realizarem a audiodescrição, para que ela possa gravar as características e a voz.  

A mãe de Julianne foi sua maior incentivadora. “Ela lutou muito pela minha deficiência, para que eu estudasse, fosse atrás dos meus sonhos e não desistisse”, conta. Por meio de testes, buscados e feitos por influência da mãe, hoje Julianne sabe, por exemplo, qual fonte é melhor para leitura e até qual o tamanho ideal do papel. Seu marido, também servidor público, a leva e busca no trabalho todos os dias. Para chegar até sua sala, Julianne conta com a ajuda dos bombeiros dos STF. “As pessoas são meu maior alicerce”, afirma.  

CNJ acessível  

A Comissão de Acessibilidade do CNJ pauta suas ações no coletivo e na máxima “nada sobre nós sem nós”. Segundo a presidente da Comissão, Kátia Roncada, juíza auxiliar da Presidência do Conselho, isso garante o protagonismo das pessoas com deficiência, pois “é fundamental uma composição que traga vários olhares e experiências para minimizar as diversas barreiras que a pessoa com deficiência enfrenta, como a barreira atitudinal”.  A magistrada ainda convida conselheiros(as), magistrados(as), servidores(as), terceirizados(as) e estagiários(as) a participar da Comissão. “Todos(as) são muito bem-vindos, para que possamos, cada vez mais, cuidar da inclusão e da acessibilidade das pessoas com deficiência no CNJ”, aponta. 

Nas reuniões da Comissão, Julianne mostra para os participantes sem deficiência seu mundo e suas vivências. “Eu trago uma visão que as outras pessoas provavelmente não têm. É uma experiência que traz sensibilidade e entendimento das questões pelas quais lutamos”, conta.  “Se todo mundo se ajudar, o mundo é melhor”, completa ao lembrar que a acessibilidade não ajuda somente as pessoas com deficiência. Ao se tornar mãe, a servidora percebeu a importância da calçada rebaixada para se locomover com o carrinho de bebê, e o recurso auxilia também idosos e pessoas que usam óculos.  

Julianne também ressalta a importância de que pessoas com deficiência ou que convivam com pessoas com deficiência participem dos debates da Comissão, já que cada situação é única e cada deficiência traz suas necessidades. “Os debates seriam mais interessantes e agregariam mais ideias, como projetos e realizações de ações voltadas para as pessoas com deficiência, se tivéssemos mais experiências e vivências dessas pessoas, para, assim, diminuir as barreiras no trabalho”, explica.  

O convite para participar da Comissão é aberto a todo o corpo funcional do CNJ, mesmo os que não são impactados diretamente pelo tema, pois, segundo Julianne, “mesmo que não traga benefícios visíveis, vai mexer com o coração”. Confira o convite:  

 

Faça parte da Comissão e entenda que acessibilidade e inclusão vão além de pisos táteis, placas em braille e rampas. Aos interessados, basta mandar e-mail para acessibilidade@cnj.jus.br. Participe!

Texto: Tatiana Vaz
Edição: Mirela Lopes
Vídeo: David Dantas e Erick Guedes
Comunicação Interna