A capacidade humana de buscar o propósito da vida que transcende as dimensões cognitivas, emocionais e éticas é um dos conceitos de inteligência espiritual trazidos pelo professor Cláudio Senna Venzke. Especialista em psicologia positiva e pesquisador na área de meditação e desenvolvimento humano, o palestrante trouxe para o público do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), na última sexta-feira (24/11), reflexões sobre o que é e como desenvolver essa habilidade nas organizações.
Segundo o especialista, a inteligência espiritual é uma capacidade humana que busca um significado, um propósito e uma conexão com algo maior que nós mesmos, pois ela ultrapassa as dimensões intelectual e emocional abrangendo o entendimento sobre valores, ética, transcendência e senso de propósito.
“O desenvolvimento da inteligência espiritual nas organizações tem potencial transformador, gera benefícios para o bem-estar individual e coletivo contribuindo para a qualidade de vida no trabalho”, salientou.
Contudo, ressaltou o professor, a inteligência espiritual não está ligada necessariamente às questões religiosas, pois essa qualidade envolve algo maior, mais profundo do que doutrinas ou crenças. Essa forma de inteligência também é evidenciada nas relações com a natureza, com o meio ambiente, com os animais, com o comportamento ético e respeitoso que expressamos às pessoas.
Impactos positivos
Para o professor, essas habilidades podem ser adquiridas e demonstradas de várias maneiras. Mas para que elas possam ser evidentes e produzir impacto positivo na vida dos outros e, especialmente nas organizações, é preciso senso de propósito, de engajamento, de ética e de liderança consciente.
Cláudio destacou ainda o senso de propósito como algo importantíssimo para atingir a inteligência espiritual. “O grande objetivo de ser uma presença benéfica, onde estivermos, é impactar positivamente o nosso meio. Sorrir, dizer uma palavra de atenção, agradecer, ser gentil, são algumas das evidências da prática dessa habilidade no nosso dia a dia”.
Os benefícios da inteligência espiritual nas organizações, segundo o professor, são inúmeros, mas para exercê-los com naturalidade é necessário praticar o autoconhecimento e começar por algumas indagações: quem eu sou, o que eu faço e quais são as minhas reações em determinadas situações? Responder a essas questões é o ponto de partida para que nos tornemos uma pessoa melhor e, consequentemente, melhore as nossas relações”, citou.
Na prática, Senna resume que a inteligência espiritual se reflete no ambiente de trabalho quando cada um de nós percebemos qual é o nosso papel e também o engajamento dentro da instituição e, ainda, quando desenvolvemos o equilíbrio, a resiliência e a ética dentro das organizações. “Precisamos contagiar os outros com as nossas emoções positivas. A inteligência espiritual nos ensina a contagiar as pessoas com nossas emoções por meio de um mecanismo neurológico chamado comportamento espelho. Esse comportamento é, normalmente, o contágio emocional promovido por neurônios espelho, realizado de maneira inconsciente. Exemplo disso, é quando nos dirigimos às pessoas bocejando ou sorrindo, esse hábito é automaticamente replicado inconscientemente pelo outro”, explicou.
Da mesma forma que as condutas positivas são repetidas, os comportamentos negativos também são, ou seja, quando chegamos ao local de trabalho mal-humorados, estressados ou cansados, essas atitudes são imitadas e reproduzidas verbalmente pelos colegas propiciando ambiente “pesado” e maléfico. Por esse motivo, ressaltou o professor, é essencial praticar a compaixão como habilidade da mente espiritualmente inteligente.
A inteligência espiritual produz ação. Não basta ser empático — aquele que dispõe apenas do conhecimento da situação, mas não toma nenhuma iniciativa —. Para mudar o cenário, defendeu o especialista, é preciso ir além, é preciso ter compaixão, se colocar no lugar do outro e agir.
“A inteligência espiritual, de forma prática, é olhar, perceber o próximo, seja dentro do shopping, na padaria, seja onde for. A prática da compaixão e de falar com olhar atencioso (de alguém que realmente se importa), não apenas promove impactos positivos nas pessoas, mas especialmente em nós mesmos”, frisou.
Juliene Andrade