CNJ convida rede de vítimas da violência estatal para atuar em Observatório de Direitos Humanos

Você está visualizando atualmente CNJ convida rede de vítimas da violência estatal para atuar em Observatório de Direitos Humanos
Reunião da Rede de Atenção a Pessoas Afetadas pela Violência de Estado - RAAVE com o CNJ. Foto: Luiz Silveira/CNJ

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) ofereceu à Rede de Atenção a Pessoas Afetadas pela Violência de Estado (RAAVE) uma vaga para integrar o Observatório dos Direitos Humanos do Poder Judiciário. O anúncio foi feito durante audiência realizada nesta quinta-feira (16/10), na sede do CNJ, em Brasília. O encontro teve a presença de 144 integrantes da rede.

A reunião buscou estreitar a articulação do Conselho com redes e organizações que atuam na defesa dos direitos humanos, especialmente no enfrentamento à violência praticada por agentes estatais. A secretária-geral do CNJ, Clara Mota, destacou que a presença da RAAVE no Conselho representa “uma questão estrutural e profunda do Estado brasileiro que precisa ser enfrentada com respostas efetivas e responsabilidade”.

A secretária afirmou ainda que a atual gestão do CNJ, presidida pelo ministro Edson Fachin, tem priorizado a articulação com o Sistema Interamericano de Direitos Humanos e o fortalecimento de políticas voltadas às vítimas. “Temos políticas consolidadas, como os Centros de Atenção às Vítimas e a Unidade de Monitoramento e Fiscalização das decisões do sistema interamericano, mas, seguramente, vocês trarão contribuições que nos farão avançar nesses muitos campos”, afirmou.

Juíza auxiliar da Presidência do CNJ e coordenadora do programa Justiça Plural, Adriana Melonio, ressaltou a importância de ouvir as vozes das pessoas afetadas pela violência estatal. “Nós somos servidores públicos, mas a nossa missão principal é servir a sociedade. Mais que um Estado reparador, [buscamos] um Estado acolhedor, que respeite a vida das pessoas negras”, afirmou.

 

Reunião da Rede de Atenção a Pessoas Afetadas pela Violência de Estado – RAAVE com o CNJ. Foto: Luiz Silveira/CNJ

 

Rede de acolhimento e articulação

A RAAVE foi criada em 2022, após a Chacina do Jacarezinho, como uma iniciativa da Defensoria Pública do Rio de Janeiro. A rede se consolidou como um espaço de acolhimento psicossocial e articulação entre familiares de vítimas, organizações de direitos humanos, universidades e grupos clínicos. Seu trabalho busca descentralizar o atendimento e oferecer suporte às pessoas afetadas pela violência de Estado.

Durante a reunião, o coordenador técnico da RAAVE, Guilherme Pimentel, destacou o papel do CNJ na construção de políticas públicas que tornem o Poder Judiciário mais acolhedor. “Hoje temos a oportunidade de construir juntos soluções. As mães não precisam ser meras receptoras das políticas públicas; elas podem ser incluídas na formulação e na gestão dessas políticas”, afirmou.

A coordenadora técnica do grupo, Dejany Ferreira, reforçou o pedido para que o Judiciário seja um espaço de acolhimento e cuidado. “Nossa solicitação é para que o CNJ possa transformar os tribunais em locais saudáveis, e não em mais um espaço de violência”, disse.

Vozes das famílias e demandas ao Judiciário

Na reunião nesta quinta-feira (16) no CNJ, mães e parentes de vítimas de violência do Estado compartilharam relatos e histórias, pontuando também demandas endereçadas ao Judiciário. Entre as situações narradas, mencionaram falhas na recepção de familiares e testemunhas em tribunais durante audiências e julgamentos, o que pode gerar exposição excessiva e risco. As integrantes da rede solicitaram uma perspectiva de julgamento sem preconceitos e vieses, para evitar a revitimização tanto das vítimas quanto de seus familiares.

O CNJ tem desenvolvido iniciativas voltadas à prevenção e ao enfrentamento da violência de Estado. Entre elas, destaca-se o Grupo de Trabalho Polícia Cidadã, instituído em 2022 para avaliar o Plano de Redução da Letalidade Policial do Rio de Janeiro e propor medidas de adequação.

Também estão em andamento ações voltadas ao atendimento a vítimas e familiares, como o diagnóstico sobre os Centros Especializados de Atenção às Vítimas (CEAVs) e a implementação da Resolução CNJ n. 634/2025, que estabelece diretrizes para atenção e apoio aos familiares de pessoas desaparecidas no âmbito de ações judiciais. 

Além disso, o CNJ acompanha o cumprimento de decisões da Corte Interamericana de Direitos Humanos, por meio da Unidade de Monitoramento e Fiscalização (UMF/CNJ), e atua na formulação de políticas para aprimorar a resposta judicial em casos de desaparecimento e letalidade policial.

Texto: Jéssica Vasconcelos 
Edição: Beatriz Borges
Agência CNJ de Notícias

Macrodesafio - Garantia dos direitos fundamentais