Comida com cabelo, segundo adolescentes internados em unidades de Maceió, é um exemplo da má qualidade da alimentação servida pela administração. Eles relataram à juíza Ana Cristina Borba Alves que já foram forçados a recusar as refeições pois estavam intragáveis. A magistrada foi designada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para coordenar o Mutirão Eficiência e Socioeducação do CNJ em Alagoas. Desde o último dia 5, a juíza visita as unidades de internação de jovens em conflito com a lei localizadas na capital do estado.
Em uma das unidades que a magistrada visitou, os adolescentes contaram que já encontraram saliva e até fios de cabelo dentro da comida servida. “Quando cheguei aos alojamentos de uma unidade, vi que o café da manhã havia sido servido e rejeitado pelos adolescentes. Era um café e um cuscuz que parecia cru. Tinha um aspecto péssimo e um cheiro azedo. Parecia uma farofa com uma espécie de calabresa. Ninguém tocou na comida”, afirmou a juíza.
Além da má qualidade da alimentação, a magistrada constatou a insalubridade em meio à qual os adolescentes passam os dias. “Eles vivem em alojamentos cheios de lixo. Faz muito calor dentro dos alojamentos e há mofo pelas paredes”, relatou a juíza. Os internos só seriam autorizados a passar uma hora no banho de sol por dia. Como consequência, são comuns indícios de doenças dermatológicas na pele dos adolescentes. “Faltam oportunidades de estudo e trabalho para os internos. Por conta dessas violações de direitos, já existem várias ações judiciais, algumas já julgadas e outras ainda em andamento”, completou.
Repetição – Uma equipe do CNJ visitou o sistema socioeducativo alagoano em outubro de 2010 e registrou reclamações dos internos quanto à quantidade e à qualidade das refeições fornecidas. Em 2012, duas juízas auxiliares da Presidência do CNJ retornaram ao estado, onde encontraram instalações ultrapassadas e insalubres.
“No local em que ficam alojados os adolescentes pode se perceber efetivamente a deterioração dos quartos e a necessidade de reforma ampla e a imediata necessidade de transferência daqueles que ali estão. Pelas péssimas condições, poucos quartos são utilizados, o que gera a concentração dos adolescentes, aumentando ainda mais as condições degradantes, pois passam a dormir em colchões espalhados por todo o quarto e não há modo de manter mínima higiene. Há grande incidência de mosquitos, o que faz que os adolescentes mantenham uma espécie de corda queimando diuturnamente, tornando o odor mais desagradável e inóspito. Os quartos interditados estão completamente destruídos e incendiados”, relataram as magistradas Cristiana Cordeiro e Joelci Diniz, na época responsáveis pelo Programa Justiça ao Jovem do CNJ.
Manuel Carlos Montenegro
Agência CNJ de Notícias